segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Mãos da madrugada

Mãos macias, protetoras, acolhedoras. Encontram-me e me fazem transcender. Antes nas minhas mãos, aquecem. Desabo em seu colo. Elas imergem-me ao tocarem minha face. Ato incestuoso. Nos olhamos, olhares que não se deslocam. Olhar-te é ver tudo que se passa dentro de mim. Sento. Minha vez. Minhas mãos tocam o teu rosto, é como tocar algodão e seda, seu rosto é macio.
Nossos corpos se aproximam cada vez mais. Moléculas que se atraem, equação química. Você (positivo) + Eu (negativo) = fusão, abraço. Paraliso te sentindo. Sua respiração, o calor do teu corpo, pulsar do teu coração. Imagens surgem para mim, seu sorriso é o mais presente nelas. Você é a única pessoa que sempre me faz bem (elemento químico positivo), e eu sempre te procuro com problemas (elemento químico negativo). Não que eu não queira saber sobre suas questões, só que você não diz. Aterrisso e volto para o conforto do corpo. Nos deitamos. Minha mão logo procura a sua. O carinho em nossas mãos se manifesta em um fluxo perfeito. Me sinto protegida. Dormimos de mãos dadas.
Acordo. Vejo que dormi com um anjo (talvez o meu anjo da guarda na terra). Observo-te com doçura. A vontade é de te acordar, mas seu semblante adormecido me transpassa paz.
Saio do quarto. Mas não aguento, a vontade é de estar protegida por suas mão novamente, sinto falta. Retorno ao seu quarto. “Bom dia, meu amor”. Te dou um beijo na face.
Nos levantamos para a ducha fria da realidade. Rotina que nos espera. Saio de casa quase sem conseguir me despedir, algo me pede para ficar sob tuas confortantes mãos. Mas tenho que ir e me enrijeço para o lado de fora.

(Júlia Veras).

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